Investigação em Portugal: teste inovador permite identificar multirresistências na tuberculose
Cientistas envolvidos já tinham sido premiados em 2012
Em 2012, receberam o Prémio de Mérito Científico Santander Totta/ Universidade NOVA pelo desenvolvimento de um teste rápido e mais barato de diagnóstico da tuberculose, baseado em nanopartículas de ouro. Em Janeiro, Pedro Viana Baptista, da Faculdade de Ciência e Tecnologia (FCT), e Miguel Viveiros, do IHMT, publicaram um artigo em que mostram que, recorrendo ao mesmo método, e dentro do mesmo tubo, é ainda possível determinar se se trata de uma tuberculose multirresistente e especificar que mutações causam resistência.
O estudo, publicado na revista científica internacional Tuberculosis, partiu de genótipos do bacilo da tuberculose portuguesa, mas a metodologia de diagnóstico pode ser adaptada a qualquer grupo genético de resistências.
Em 2011, Portugal registava 22,6 novos casos de tuberculose por 100 mil habitantes, com aproximadamente três por cento de casos multirresistentes, um decréscimo significativo quando comparado com o ano 2000 (25-30 por cento). Foi nessa altura que o IHMT trouxe para Portugal o diagnóstico precoce por biologia molecular e, com o apoio da Fundação Gulbenkian, aplicou-o na área da Grande Lisboa. “Em 24 horas, passou a saber-se se os indivíduos estavam doentes e se eram ou não multirresistentes”, diz Miguel Viveiros.
Com a nova tecnologia de diagnóstico baseada em nanopartículas de ouro, é possível obter o mesmo diagnóstico de forma menos dispendiosa e com uma fácil concretização técnica. “A grande vantagem desta abordagem é permitir sensibilidades superiores às técnicas moleculares padrão (PCR) mas de forma simples e a baixo custo”, refere Pedro Baptista.
“Na prática, pegamos nas nanopartículas, que estão funcionalizadas com sequências que identificam o bacilo da tuberculose e com as resistências do bacilo. Se, na amostra doente, existir o bacilo ou o seu ADN, esses alvos interagem com as partículas. Se não existir interação, a solução muda de cor para azul devido à agregação das nanopartículas”, explica Miguel Viveiros.
A detecção precoce dos casos de tuberculose multirresistente em Portugal é uma necessidade urgente, já que as estirpes portuguesas apresentam características únicas, que as tornam irresponsivas aos tratamentos padrão preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Sabemos que 75-80 por cento das estirpes multirresistentes em Portugal são do mesmo grupo genético da estirpe Lisboa, que tem características não partilhadas com o resto do mundo”, explica o investigador Miguel Viveiros.
Foi no IHMT que a estirpe Lisboa foi identificada pela primeira vez, tendo sido caracterizada, em 1999, no âmbito de uma parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. As razões que a levam a ter uma maior predisposição para a resistência e a centrar-se em Portugal ainda não estão esclarecidas. Mas estão em estudo.
“Temos feito todos os esforços para caracterizá-la do ponto de vista científico. Sabemos que apresenta delecções em alguns genes que a tornam mais virulenta”, daí a não responsividade ao tratamento padrão da OMS, salienta o bacteriologista do IHMT.
Ana Sofia Soares, m6175
A investigação não pára e cada vez mais o uso de tecnologias de pequena dimensão, neste caso à escala nano, é cada vez mais utilizado e investigado para aplicações médicas. Este tipo de teste irá ser uma mais valia sendo um 2 em 1: permitirá saber no próprio dia se a pessoa tem tuberculose ou não, o que pelo método tradicional demoraria entre uma a duas semanas e ao mesmo tempo saber se o indivíduo possui multirresistência; para além que será um método menos dispendioso que outros métodos. Investigação na tecnologia e saúde é isto, diminuir o tempo de diagnóstico, aumentando assim a probabilidade de cura, diminuir o tamanho da tecnologia para ser mais específica e muitas vezes conseguir diminuir os custos.
ResponderEliminar