Avançar para o conteúdo principal

Como é que o cérebro cria sequências?

Estudo de Rui Costa revela que os neurónios dos gânglios da base  sinalizam a ligação dos elementos individuais numa sequência


Num artigo publicado ontem na revista científica Nature Neuroscience, o neurocientista Rui Costa, o pós-doutorado Fatuel Tecuapetla, ambos investigadores do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, e Xin Jin, investigador no Salk Institute em San Diego – EUA, revelam que os neurónios dos gânglios da base sinalizam a ligação dos elementos individuais numa sequência.


Quando estamos a aprender a tocar piano, primeiro aprendemos umas notas, depois passamos às escalas e aos acordes e só então conseguimos tocar uma peça. O mesmo princípio pode ser aplicado à fala e à escrita, onde em vez de escalas aprendemos o alfabeto e as regras da gramática.

Mas como é que estes elementos mais pequenos são aglutinados, criando assim uma sequência única e com sentido?

Sabe-se que existe uma área específica no cérebro, os gânglios da base, responsável por um mecanismo denominado de chunking, através do qual o cérebro organiza de forma eficiente memórias e acções. No entanto, até agora sabia-se muito pouco sobre como é que este mecanismo é implementado nestes circuitos neuronais.

“Treinámos ratinhos numa tarefa em que os animais tinham de pressionar uma alavanca, a uma velocidade cada vez mais elevada. De certo modo semelhante a alguém que está a aprender a tocar uma peça de piano com um ritmo progressivamente mais acelerado,” explica Rui Costa. “Enquanto os ratinhos estavam a desempenhar esta tarefa, medimos a atividade neural nos gânglios da base e conseguimos identificar neurónios que processam uma sequência de acções como sendo um comportamento único.”

Nos gânglios da base funcionam duas grandes vias ou circuitos neurais, a directa e a indirecta. Neste artigo, os autores mostram pela primeira vez que, apesar destas duas vias funcionarem de forma semelhante durante a iniciação do movimento, têm funções bem distintas durante a execução de uma sequência comportamental.

“Os gânglios da base e estes circuitos são absolutamente cruciais para a execução de ações. Estes circuitos são afetados em diversas doenças neurológicas, como o Parkinson ou a Doença de Huntington, nas quais a aprendizagem de sequências de ações está comprometida", acrescenta Xin Jin.

O trabalho publicado neste artigo é para Rui Costa “apenas o início desta história”. Os  vinte investigadores do “Neurobiology of Action Lab”, grupo liderado pelo investigador no Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud, continuarão a estudar como é que os gânglios da base se organizam a nível funcional, durante a aprendizagem e execução de sequências de acções.

Bruno Santos m6140

Comentários

  1. Mais um fantástico trabalho realizado em Portugal. Apesar de esta publicação ser, como refere o autor "apenas o inicio desta história" tem grande impacto na comunidade cientifica por "o melhor conhecimento destes circuitos neuronais pode contribuir para o desenvolvimento de novas abordagens a diversas doenças neurológicas, como o Parkinson ou a doença de Huntington" doêncas que efetam grande parte da população mundial para as quais não existe ainda cura.



    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

 WORKSHOP Não sabe o que fazer depois do mestrado? Que caminho seguir? São tantas opções, não é mesmo? Por isso, te convidamos a assistir ao workshop "Acabei o Mestrado! E agora?" para sanar todas as suas dúvidas e decidir os próximos passos do teu futuro! Te aguardamos quinta-feira dia 11 de Abril às 14:00 no Anfiteatro Amarelo da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI!

Inteligência Artificial

  Livro Branco sobre IA é guia ético para a literacia digital na biomedicina Livro Branco sobre IA é guia ético para a literacia digital na biomedicina Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida prepara documento para aproximar profissionais de saúde, sociedade civil e poder público às questões éticas e jurídicas da Inteligência Artificial. Fonte:  https://www.publico.pt/2024/02/16/sociedade/noticia/livro-branco-ia-guia-etico-literacia-digital-biomedicina-2080649

Ciências Biomédicas da UBI (Covilhã) com 100% de Empregabilidade!

A Universidade da Beira Interior atinge, mais uma vez, valores bastante positivos de empregabilidade dos seus cursos com índices superiores a 91 por cento, bem acima da média nacional e acima dos 90 por cento do ano anterior. “Numa altura que se discute índices de empregabilidade de 30 e 40 por cento, são ótimas notícias para UBI que vê as suas licenciaturas e mestrados acima dos 85 por cento”, salienta Tiago Sequeira, Pró-Reitor da UBI. O Relatório agora divulgado pelo Ministério da Educação e pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional mostra, sem grandes surpresas, que os cursos de Engenharia da UBI continuam a garantir um lugar no mercado de trabalho, colocando-se sempre acima dos 90 por cento, situando-se numa média de 94%, sendo o mínimo de 89% (engenharia civil) e o máximo de 98% (engenharia eletrotécnica) nesta área. Medicina, Ciências Farmacêuticas, Tecnologias e Sistemas de Informação e Ciências Biomédicas são os que melhores resultados alcançam com 100 por cento de...