Um fato robótico para que paraplégicos possam dar uns passos
Lançado um novo modelo de fato biónico que permite a quem tenha paralisia dos membros inferiores pôr-se de pé e andar de forma quase independente. “Sinto as costas a moverem-se como se fosse eu a andar”, relata a portuguesa Maria Freitas, que usa o aparelho desde o final do ano passado.
In "Público" 07-02-2014
Maria Freitas estava há mais de
quatro anos sentada numa cadeira de rodas, sem conseguir andar, quando usou
pela primeira vez um exosqueleto robótico. Foi em Setembro de 2013, na clínica
de reabilitação inglesa Prime Physio, em Melbourne, perto da cidade de
Cambridge. “Foi uma sensação inexplicável, uma alegria interior, uma coisa
espantosa”, conta-nos, emocionada, esta madeirense de 43 anos, que, na altura
de um acidente de mota, já estava a trabalhar em Inglaterra.
Desenvolvido por uma empresa
norte-americana, o exosqueleto Ekso Bionics permite que doentes com vários
níveis de paralisia nos membros inferiores, causada por acidente ou doença,
possam levantar-se e andar. Ajusta-se ao corpo de cada doente com tiras de
velcro, que podem ser colocadas e retiradas pelo próprio, mas a sua utilização
deverá ser sempre vigiada. Os 23 quilos do fato biónico são totalmente
suportados pelo robô e não pelo doente. Pode ser usado por doentes com 1,50 a 1,90
metros de altura e 100 quilos, no máximo. E o preço inicial recomendado em
Portugal é de 120 mil euros, informa Allison Sojka, directora de marketing da
Ekso Bionics.
Um dos requisitos é que os
doentes tenham alguma força nos membros superiores: o dispositivo, que apoia o
tronco e os membros inferiores, é alimentado por baterias (com uma duração de
cerca de duas horas), mas o doente terá de se apoiar em canadianas ou num
andarilho.
Porém, Tom Shaw, com uma lesão da
medula espinal que o deixou paralisado quase até aos ombros e sem função motora
nas mãos, consegue mesmo assim usar o aparelho. “Tenho umas luvas especiais que
permitem agarrar-me ao andarilho e tenho força suficiente nos ombros para o
guiar”, relata ao PÚBLICO o britânico de 31 anos, que também faz terapia na
clínica Prime Physio.
São já mais de 100 as pessoas que
utilizaram o fato biónico nesta clínica britânica, com um total de 100.000
passos dados, refere o director da Prime Physio, o fisioterapeuta Andrew
Galbraith, que começou a ter formação com o Ekso no final de 2011. Cerca de um
ano depois, disponibilizou-o na sua clínica.
A nível mundial, Tom Shaw,
Marianna Rooprai e Carly Taylor são os doentes com as lesões medulares mais
graves (por se situarem na quarta vértebra cervical) a utilizar o robô Ekso.
Fazem-no sob a vigilância de Andrew Galbraith. Tom Shaw, que vai à clínica
fazer terapia de reabilitação duas vezes por semana, usa o exosqueleto uma ou
duas vezes por mês. “Sinto-me extremamente afortunado por poder ter esta
oportunidade.”
O aparelho foi concebido para que
os doentes possam caminhar mesmo que não consigam comandar os seus movimentos –
sensores incorporados dão informação sobre a posição do corpo e o robô
ajusta-se ao movimento que se pretende fazer.
“Pomos o corpo direito como se
fôssemos andar, inclinamo-nos um bocadinho para o lado e damos o primeiro
passo”, explica Maria Freitas, sobre a forma como utiliza o fato biónico. Nas
primeiras sessões com o Ekso, não era só o fato robótico que detectava o
movimento do corpo dela, era também o seu cérebro que queria comandar o
movimento das pernas. No entanto, desde o acidente de mota, em 2009, que o
cérebro de Maria Freitas não consegue comunicar com as pernas.
Embora o robô controle totalmente
os seus movimentos, ela sente a reacção de outros músculos: “O corpo sente o
movimento. Sinto as costas a moverem-se como se fosse eu a andar.”
Ao dosear a força exercida pelo
Ekso Bionics, o terapeuta incentiva o doente a investir mais ou menos esforço,
consoante os objectivos para a sessão de terapia. Pode mudar-se o padrão de
locomoção, a velocidade e o comprimento dos passos, consoante os progressos do
doente. O robô também ajuda a reaprender a andar: como dar cada passo, como
mudar o peso do corpo de uma perna para a outra para preparar o próximo passo e
qual a posição ideal do corpo para se manter em equilíbrio.
O novo modelo
Existindo desde 2005,
inicialmente com o nome Berkeley Exoworks, a Ekso Bionics tencionava criar
exosqueletos robóticos que melhorassem o desempenho físico, por exemplo para
transportar cargas pesadas em terrenos irregulares, com degraus ou inclinados.
Daí ter sido financiada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos para
desenvolver um portador de carga universal destinado a humanos (Human Universal
Load Carrier), que posteriormente foi melhorado para fins militares.
Baseando-se nesta tecnologia, a
Ekso Bionics comercializou o seu primeiro fato biónico para uso em clínicas de
reabilitação em Fevereiro de 2012, e abriu a sua primeira loja em Cambridge em
Junho desse ano.
Nos últimos dois anos, a Ekso
criou quatro modelos que foram sendo aperfeiçoados mediante os resultados no
tratamento dos doentes – cada aparelho recolhe informações em cada sessão
terapêutica. “Mostra não só a velocidade a que avança a tecnologia, mas também
o ritmo a que a comunidade clínica está a adoptar [o Ekso] nos seus programas
de reabilitação”, refere, num comunicado de imprensa, Nathan Harding,
presidente da Ekso Bionics.
O Ekso GT, o modelo mais recente,
lançado no final de 2013, introduz avanços mecânicos e no software que controla
o aparelho. “As melhorias mecânicas do Ekso GT incluem o ajustamento [do robô]
a cada doente de uma forma mais fácil e rápida; a flexibilidade na ligação e na
rotação da anca para que os doentes com melhores capacidades motoras tenham
mais liberdade [de movimentos]; e o ajustamento do pé para uma marcha mais
estável”, esclarece ao Allison Sojka.
A rapidez com que se veste o robô
Ekso e a facilidade com que se ajusta entre doentes são algumas vantagens
referidas por Jorge Jacinto, médico no Centro de Medicina de Reabilitação de
Alcoitão (CMRA), quando o compara com o aparelho de marcha suspensa Lokomat
utilizado na sua instituição. “O Lokomat é mais volumoso e mais trabalhoso de
colocar.”
Os fatos biónicos Ekso são
especialmente concebidos para uso em clínicas, onde o terapeuta controla
remotamente o aparelho. “Contudo, há já alguns indivíduos que possuem fatos
Ekso e que os usam como um aparelho de exercício físico. A marcha pode ser
acompanhada por terapeutas nas clínicas ou terapeutas que tenham sido
contratados a título particular”, diz Allison Sojka.
Entre os doentes que já
recorreram aos serviços da clínica onde trabalha e que actualmente utilizam o
Ekso Bionics no seu dia-a-dia, Andrew Galbraith menciona dois: Claire Lomas, a
primeira mulher com lesões medulares a completar uma maratona usando um
exosqueleto, e Mark Pollock, um atleta cego e paraplégico que usa regularmente
o robô.
A maior parte dos que utilizam o
fato biónico tem lesões da medula espinal, completas ou incompletas. “Para
doentes com lesões da medula espinal incompletas, o Ekso é uma ferramenta que
permite melhorar a função de marcha, que conduz ao caminhar sem um
exosqueleto”, esclarece Andrew Galbraith. Acrescenta ainda que, nos casos de
lesões medulares completas, se pretende melhorar as funções motoras próximo da
zona da lesão, manter uma boa postura, reduzir os espasmos e, principalmente,
obter um efeito psicológico.
“Foi realmente espantoso estar à
mesma altura da minha família e da minha namorada”, diz Tom Shaw, ao recordar o
primeiro momento em que vestiu o Ekso Bionics. “Foi provavelmente o momento
mais feliz que tive desde o acidente.”
O Lokomat também é usado no
treino e na reeducação da marcha, sendo articulado nas ancas, nos joelhos e
tornozelos. “É um exosqueleto, mas está fixo a um sistema de suspensão [sobre
uma passadeira rolante]. Retira uma parte do peso do doente consoante aquilo
que ele já é capaz de suportar”, explica Jorge Jacinto, responsável por um dos
serviços de reabilitação de adultos do CMRA.
“[No CMRA,] para uma percentagem
significativa dos pacientes com lesão medular, o Lokomat faz parte do programa
de reabilitação em alguma fase desse processo”, garante Jorge Jacinto. É usado
não só nos doentes que ainda não conseguem caminhar nem manter-se de pé, mas
também para corrigir alguns defeitos na locomoção de quem voltou a andar, como
o coxear ou uma postura incorrecta.
Outras vantagens para a saúde
A marcha com os exosqueletos em
geral ou mesmo a possibilidade de estar de pé pretende prevenir outras
complicações de saúde, como problemas nos intestinos e na bexiga, doenças do
coração ou osteoporose. “Para nós, paraplégicos, é bom estarmos de pé”, diz
Maria Freitas. “Tenho um suporte para estar de pé, para não estar sempre na
cadeira de rodas, porque faz bem aos músculos da barriga esticar-me um bocado.
Também alivia as dores que tenho nas costas”, explica.
“Estão a realizar-se estudos
sobre o impacto dos aparelhos Ekso em complicações relacionadas com a vida em
cadeira de rodas. Vão incidir sobretudo no impacto no sistema digestivo, na dor
neuropática [devido a fibras nervosas disfuncionais], em úlceras de pressão
[aparecem quando se passa muito tempo na mesma posição] e na densidade óssea”,
refere Allison Sojka.
Além disso, estar de pé e andar,
mesmo que artificialmente, é importante para a auto-estima. “Não há esperança
de que volte a andar, os principais benefícios são psicológicos. É extremamente
moralizante”, diz Tom Shaw, paralisado há dois anos, depois de ter sido
empurrado para dentro de uma piscina. Antes do acidente, fazia trabalho
humanitário. Aprendeu a falar português quando esteve no Brasil, na
Guiné-Bissau e em Moçambique. Agora continua a trabalhar para organizações
não-governamentais, em casa, e faz traduções de português para inglês.
No CMRA, Jorge Jacinto explica o
que fazem: “Desde o início, tentamos colocar o doente de pé, transferir o peso
do corpo de um lado para o outro. Isto é fundamental para dar motivação.” Só
lamenta que o Lokomat seja fixo e a utilização restrita ao ginásio.
Para compensar esta limitação, no
CMRA “os doentes que já têm capacidade de andar não treinam só no ginásio, vão
para o corredor e para a rua testar diferentes tipos de piso e degraus”, diz
Jorge Jacinto. “Tentamos adequar o treino à vida real.”
Além de um aparelho Lokomat, para
treino dos membros inferiores, no CMRA há também três aparelhos Armeo, para a
reabilitação dos membros superiores (dois para adultos e um para crianças).
Entre os modelos Lokomat, existe ainda um modelo pediátrico, embora não esteja
disponível no CMRA.
Actualmente, a Ekso Bionics já
vendeu os seus exoesqueletos para cerca de 40 centros de reabilitação e
hospitais em todo o mundo, sobretudo na América do Norte e Europa, incluindo
três em Espanha. “Têm um [robô Ekso] num centro de referência, o Instituto
Guttman, em Barcelona”, refere Jorge Jacinto.
Fonte: Jornal "Público"
Link: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/um-fato-robotico-para-que-paraplegicos-dar-uns-passos-1622638#/0
Publicado por: Ana Sofia Dutra, E7633
Milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de deficiências motoras tão severas que as impedem de se moverem de forma livre e autónoma. Apesar de não possuirem mobilidade motora, as funções sensoriais e cognitivas estão intactas. Estes doentes são os candidatos perfeitos ao esqueleto biónico ou exosqueleto. Este sistema inovador, Ekso Bionics, fornece uma interface directa entre um fato biónico robótico e o corpo do doente paraplégico. Esta tecnologia requer que os doentes tenham alguma força nos membros superiores não lesados e que se façam apoiar em canadianas ou num andarilho enquanto caminham a uma velocidade ajustável à sua capacidade física e ao seu grau de reabilitação. Permite assim que pessoas com paralisia dos membros inferiores resultante de lesões medulares, completas ou incompletas, se movam na posição vertical de forma quase independente. Tudo isto contribui para um aumento da qualidade de vida do doente, com melhorias significativas do seu estado de saúde pelo simples facto de evitar complicações médicas associadas ao uso permanente de uma cadeira de rodas.
ResponderEliminarAna Sofia Dutra, E7633
Olá o meu nome é Joaquim Pedro dino e tenho 27 anos de idade e vivo em angola, gostaria de saber como posso adquirir a este aparelho robótica para a minha reabilitação, sofri um acidente e me encontra na condição de cadeira te, ficaria muito feliz se alguém me podesse ajudar a conseguir um destes
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