Investigadores conseguiram reverter o declínio da memória relacionado com a idade através de fracos estímulos eléctricos sincronizados em determinadas regiões do cérebro.
Uma equipa de investigadores conseguiu reverter o declínio da memória relacionado com a idade através de uma estimulação das áreas temporais e pré-frontais do cérebro num ritmo específico, segundo um estudo publicado esta semana na revista Nature Neuroscience. No artigo, os cientistas referem que uma leve corrente eléctrica foi capaz de levar os participantes com mais de 60 anos a executar tarefas que envolviam o recurso à chamada memória de trabalho, como o mesmo nível de desempenho obtido por jovens entre os 20 e 29 anos.
Chamam-lhe memória de trabalho ou a curto prazo e muitas vezes é comparada à bancada de trabalho ou ao primeiro rascunho da mente. No fundo, é onde a informação entra e fica temporariamente armazenada para a usarmos a curto prazo. Para fazermos uma rápida conta de matemática, por exemplo, ou para nos lembrarmos de tomar um medicamento ou da lista de compras do supermercado. Trata-se de uma tarefa alojada em regiões cerebrais específicas que já foram identificadas em estudos anteriores, mais precisamente, o neocórtex, as áreas temporais e pré-frontais. São as zonas que servem de marca em termos evolutivos, são as mais avançadas e, por isso, aquelas que nos fazem humanos e nos isolaram no reino animal.
Com a idade, o sistema cerebral altera-se. E se algumas competências ficam preservadas e estabilizam, outras nem tanto. Ficamos mais sensatos, diz a sabedoria popular sobre o fenómeno que os cientistas encontram no amadurecimento do “conhecimento semântico” ou do “processamento emocional”. Mas nem tudo estabiliza. Nalguns casos pode existir uma regressão neste frágil e precioso sistema cerebral, ou seja, um declínio cognitivo. Ao longo do tempo, quando chegamos aos 60 ou 70 anos, há circuitos que se desligam ou que se separam.
"Em adultos jovens, a memória de trabalho está ligada a interacções neurais específicas dentro e entre as regiões cerebrais. Acredita-se que esse processo envolva dois padrões de oscilação neural, ou ondas cerebrais”, refere um pequeno resumo do artigo publicado pela Nature. Estes padrões de oscilação neural têm um ritmo específico. E cada pessoa terá a sua própria batida. Assim, neste estudo, os investigadores começaram por ouvir o ritmo dos cérebros dos participantes, usaram a eletroencefalografia (EEG) para perceber como essas interacções mudam em adultos mais velhos e como se relacionam com a memória de trabalho.
Depois, com um procedimento de estimulação cerebral não invasivo, tentaram modular as interacções individuais de ondas cerebrais associadas à memória de trabalho. Os participantes não sentiam mais do que um ligeiro formigueiro inicial e rapidamente se adaptavam à sensação para passar a não sentir nada, explicam os investigadores que assinam o artigo. O plano era melhorar a comunicação entre o córtex pré-frontal do cérebro (à frente) e o córtex temporal (no lado esquerdo), ou seja, as zonas onde se tinha notado uma queda no ritmo e sintonia.
Quarenta e dois adultos mais jovens (20-29 anos) e 42 adultos mais velhos (60-76 anos) foram avaliados no seu desempenho numa tarefa que exigia memória de trabalho, com ou sem estimulação cerebral. “Sem estimulação cerebral, os idosos eram mais lentos e menos precisos na tarefa de memória de trabalho do que os adultos mais jovens”, refere o comunicado. As tarefas pedidas consistiam em olhar para uma imagem no computador, depois uma página em branco por três segundos e, finalmente, uma segunda imagem idêntica à primeira ou ligeiramente alterada. Os participantes tinham que dizer se era a mesma imagem ou não.
O efeito não acaba com a estimulação.
Numa conferência de imprensa organizada pela Nature, Robert Reinhart, um dos principais autores do estudo e investigador na Universidade de Boston, explicou que depois de cerca de 25 minutos de estimulação cerebral activa, a precisão da tarefa de memória de trabalho dos adultos idosos melhorou ao ponto de ficar semelhante à dos adultos jovens. O efeito, disse ainda, durou 50 minutos após a estimulação ter sido administrada mas o investigador admite que pode ser ainda mais prolongado. Esse foi só o tempo usado no estudo para a observação dos resultados.
O neurocientista esclareceu ainda que a estimulação usada neste trabalho tem características especiais. Tem, por exemplo, uma frequência que é “sintonizada” de forma personalizada e é um tipo de estimulação eléctrica de alta definição, com recurso a correntes alternadas. “É feita à medida de cada participante e de acordo com a dinâmica das redes neuronais gravadas antes da estimulação.
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