"O ano em que o ARN entrou nas bocas do mundo"
"Nos últimos anos, temos assistido a um boom no conhecimento do ácido ribonucleico, mas com a pandemia começou a fazer parte do vocabulário geral. Que ácido é este? E onde o encontramos no SARS-CoV-2?
Ácido ribonucleico – ARN, na sigla em português, e RNA, na sigla em inglês. Há já muito tempo que estas palavras e siglas entraram no vocabulário dos cientistas. Mas parece que só em 2020, com o despertar da atual pandemia, entraram definitivamente no vocabulário de todos nós. Ora não fosse esse o material genético do SARS-CoV-2 – o vírus que causa a covid-19 – e o ácido nucleico procurado nos testes de diagnóstico de PCR.
Os ARN são moléculas que podem executar ou modificar as instruções que vêm do código genético do ADN (ácido desoxirribonucleico). Para nos elucidar do que se trata exatamente o ARN e qual é a sua função, Cecília Arraiano diz que vai usar a mesma explicação que dá aos seus alunos. E o esclarecimento começa no ADN. “O DNA [ácido desoxirribonucleico na sigla em inglês] é como se fosse o plano do arquiteto para fazer uma casa, sendo que o plano é o material genético”, compara. “Depois, vêm os engenheiros civis, os engenheiros eletricistas e os construtores, que vão executar o plano do arquiteto. Quem executa são os RNA.” Esses engenheiros e construtores podem até mudar o plano – tal como nós, humanos, quando construímos casas.
Muitos desses ARN estão envolvidos na produção de proteínas (isto é, a parte estrutural da casa, como os tijolos). “As proteínas podem ser usadas para fazer o esqueleto da casa ou ter algumas funções, mas têm de ser feitas primeiro por esses RNA.” Há ainda outros ARN que não estão envolvidos na produção de proteínas, mas têm uma função reguladora. “É como se esses executores dissessem: ‘Está muito calor hoje e não vamos trabalhar até uma certa hora ou vamos diminuir as horas de trabalho [na construção da casa]’. Andam a regular”, metaforiza a cientista. “Têm uma função muito importante e em certos seres vivos até conseguem arrancar bocadinhos de DNA para dizer: ‘Isto não vai ficar no plano, vamos arrancar’. Os RNA são os executores do património genético. Têm uma importância enormíssima a executar aquilo que vem do DNA.”
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