Experiências em moscas da fruta apontam para uma clara influência dos micro-organismos intestinais e a vontade de comer certos alimentos
Uma equipa de cientistas que inclui investigadores portugueses descobriu dois tipos de bactérias intestinais que conseguem influenciar o cérebro e o comportamento das moscas da fruta a ponto de condicionar que tipo de alimentos procuram.
Um dos cientistas da Fundação Champalimaud, Carlos Ribeiro, que liderou o estudo, disse à agência Lusa que as bactérias não serão o único fator a determinar o apetite mas é certo que a presença de qualquer um dos dois tipos em causa vai influenciar o comportamento alimentar.
Em relação a extraoplar deste estudo conclusões para os mamíferos, Carlos Ribeiro salientou que a complexidade dos microorganismos presentes nos seus aparelhos digestivos é muito maior.
Uma das bactérias estudadas pelos investigadores parece retirar para si o açúcar da comida consumida pelos animais, fazendo aumentar o seu apetite por comidas ricas em açúcar.
Os cientistas experimentaram ainda privar as moscas de aminoácidos essenciais, mas verificaram que com a combinação de bactérias intestinais certa, os animais não desenvolviam apetite por comida rica em proteína.
A conclusão é que as bactérias "parecem estar a induzir uma alteração metabólica que atua diretamente sobre o cérebro e o corpo, simulando um estado de saciedade proteica", em que as moscas não sentem necessidade de consumir mais proteína.
"Este estudo não só mostra, pela primeira vez, que o microbioma age sobre o cérebro para alterar as preferências alimentares dos animais, como também que, para produzir esse efeito, as bactérias intestinais recorrem a um novo mecanismo, ainda desconhecido", afirmou outra investigadora da Fundação Champalimaud, Zita Santos, coautora do estudo.
Fonte: http://www.dn.pt/sociedade/interior/cientistas-descobrem-ligacao-entre-apetite-e-bacterias-intestinais-nas-moscas-da-fruta-6243917.html
Comentário de Vanessa Santos: Apesar de já se desconfiar que os microorganismos intestinais influenciavam o apetite, este estudo veio comprovar e identificar dois tipos específicos de bactérias que têm a capacidade de modificar as preferências alimentares num modelo experimental de moscas da fruta. Os fatores que influenciam o comportamento alimentar dos mamíferos e a complexidade dos microorganismos presentes no seu aparelho digestivo é certamente muito maior do que neste modelo experimental, mas esta informação poderá ser um primeiro passo para o desenvolvimento de estratégias futuras que permitam modular o apetite e hábitos alimentares humanos, visando o combate a doenças como a obesidade, que se tornaram um flagelo da sociedade moderna. A obesidade é já reconhecida pela OMS como uma epidemia, que afeta a longevidade e qualidade de vida humana, e que se deve não só ao estilo de vida sedentário que se vive atualmente, mas também à maior disponibilidade de produtos alimentares como a "fast food", que são alternativas mais práticas e baratas do que os alimentos tradicionais, mas acabam por ser altamente calóricos e ter teores bem mais altos de gorduras saturadas, açúcar e sal.
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