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Desvendada mais uma peça da relação intrincada entre a diabetes e a doença de Parkinson

Cientistas portugueses têm vindo a explorar a relação entre a diabetes e a doença de Parkinson. Agora, trazem-nos novidades sobre uma proteína que poderá contribuir para novas estratégias terapêuticas.

Se alguém for diabético, terá uma probabilidade maior de vir a desenvolver a doença de Parkinson. Aos poucos, os cientistas têm vindo a desvendar os mecanismos por detrás dessa relação. Desta vez, uma equipa de investigadores portugueses vasculhou um desses mecanismos: sabia-se que os açúcares diminuem os níveis de uma proteína (a Hsp27), o que permite que uma outra proteína importante na doença de Parkinson fique anómala e, com isso, se torne tóxica para os neurónios. Em modelos celulares, a equipa compensou os níveis da Hsp27 e evitou os efeitos tóxicos do aumento dos açúcares. Está assim encontrada uma pista molecular que pode ser um alvo terapêutico para a doença de Parkinson.

Apenas entre 2 e 5% dos casos de doença de Parkinson são hereditários. Sabe-se ainda que o envelhecimento e a diabetes estão entre os factores de risco da Parkinson. Num estudo de 2018 que envolveu cerca de oito milhões de indivíduos viu-se que os diabéticos tinham uma probabilidade muito maior de vir a desenvolver a doença de Parkinson. Se alguém entre os 25 e os 45 anos tiver diabetes, esse factor de risco aumenta em 380% relativamente uma pessoa que não tem diabetes. Por isso, é importante explorar quais as associações a nível molecular que a diabetes pode estar a causar.

Tendo isto – e muito mais – em conta, equipas com cientistas portugueses têm vindo a explorar a relação entre diabetes e doença de Parkinson. Em 2017, um grupo liderado por Tiago Outeiro,agora na Faculdade de Medicina na Universidade de Göttingen, na Alemanha, revelou que a glicação (reacção de açúcares com proteínas) leva a que a proteína alfa-sinucleína se torne anómala e comece a aglomerar-se. Estes agregados tornam-na tóxica e fazem com que mate neurónios, nomeadamente os que produzem dopamina. A falta deste neurotransmissor leva a que comecem a ocorrer falhas sobretudo a nível motor, porque a informação não chega correctamente ao córtex cerebral. 

A equipa observou este fenómeno em modelos celulares, moscas-da-fruta e ratinhos. Quando a equipa aumentou a glicação, viu que as moscas-da-fruta tinham problemas motores. Mas, se as tratassem com fármacos que têm a capacidade de evitar a glicação, recuperavam a capacidade motora. Já nos ratinhos viu-se que a glicação levava à perda de neurónios dopaminérgicos, que tipicamente morrem na doença de Parkinson.

Neste momento, está a dar-se seguimento a este trabalho com ratinhos: “Vamos efectivamente avaliar a capacidade de alguns destes compostos reverterem esta reacção e serem terapêuticos”, anuncia Hugo Vicente Miranda, investigador principal do Centro de Investigação de Doenças Crónicas, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, e que também participou neste trabalho.

Em paralelo, quis conhecer-se outro tipo de maquinaria celular que podia estar a ser afectado pela glicação. Já se sabia que a proteína Hsp27 consegue proteger a alfa-sinucleína, ao evitar que entre num processo de agregação. Agora, em células derivadas de tecido cerebral humano, observou-se que, quando há um aumento de açúcares, os níveis da Hsp27 caem drasticamente e esta proteína quase deixa de ser detectada nas células. Como deixa de estar presente, deixa de proteger a alfa-sinucleína.

Compensaram-se então os níveis da Hsp27 através ferramentas genéticas. Resultado: os açúcares deixaram de causar anomalias na alfa-sinucleína. As conclusões são publicadas este mês na revista científica FASEB com duas equipas coordenadas por Tiago Outeiro e Hugo Vicente Miranda. “Todo o tipo de estratégias que consigam elevar os níveis da Hsp27 podem ser novas estratégias para proteger os neurónios de morrerem”, resume Hugo Vicente Miranda.



Fonte: https://www.publico.pt/2020/04/26/ciencia/noticia/desvendada-peca-relacao-intrincada-diabetes-doenca-parkinson-1913592
The creation of this blog came from a challenge posed to Masters students of Biomedical Sciences of the University of Beira Interior, Covilhã (Portugal), by Professor Doctor José Eduardo Cavaco within the course "Project in Biomedical Sciences''. The Biomedical Sciences combine the areas of Biology, Biochemistry, Physics, Management and Engineering, stimulating the capacity for self learning, critical thinking and adaptation to new technologies. Thus, the Biomedics integration in different areas of the national and international job market is possible as technical supporters in clinical environment, consulting, industry, education and research. For more information: http://www.ubi.pt/Curso/907.

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