Nas fases mais avançadas da doença de Parkinson, a estimulação cerebral profunda melhora a qualidade de vida dos doentes. Contudo, alguns que fazem esse tratamento acabam por ficar com o andar afectado. Ana Raquel Barbosa, médica interna, quer perceber quem são esses doentes, quais as suas características e como se poderá reverter as complicações na sua marcha. Com este projecto de investigação, a médica venceu o Prémio João Lobo Antunes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, no valor de 40 mil euros. A cerimónia de entrega desta distinção é esta quarta-feira de manhã no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
Ana Raquel Barbosa é médica interna de neurologia no Hospital de Egas Moniz, em Lisboa, e a sua área específica é a das doenças de movimento. “Dentro das doenças de movimento, a doença de Parkinson é aquela em que temos mais doentes nas consultas”, diz a médica de 31 anos. Como tal, observou quais eram as dificuldades com que esses doentes se deparavam e como poderia intervir. “A investigação surge das necessidades que vão surgindo aos doentes”, salienta.
E que necessidades são essas? Nas fases avançadas da doença de Parkinson – a segunda doença neurodegenerativa mais comum, a seguir à Alzheimer –, a estimulação cerebral profunda é um tratamento eficaz para melhorar a qualidade de vida dos doentes. Para essa estimulação, através de uma cirurgia, são colocados eléctrodos em regiões profundas do cérebro dos doentes que estão ligados a uma espécie de bateria que está por baixo da pele, na região torácica. Essa bateria vai enviar energia para estimular o cérebro e controlar os sintomas da doença.
“No entanto, há um subgrupo de doentes que desenvolve algumas complicações na marcha”, refere Ana Raquel Barbosa. “Nesses doentes, a qualidade de vida piora bastante com a perturbação da marcha.” Os doentes ficam com os pés colados ao chão sem conseguir dar o próximo passo. Nalguns doentes isto pode acontecer esporadicamente ao longo do dia e noutros em toda a marcha.
Ana Raquel Barbosa quer então perceber se a forma como a estimulação é induzida pode ter influência na marcha, como as diferentes frequências em que é realizada. Quer saber ainda que doentes vão desenvolver essa perturbação, quais são as suas características e como pode ser revertida.
Ana Raquel Barbosa quer então perceber se a forma como a estimulação é induzida pode ter influência na marcha, como as diferentes frequências em que é realizada. Quer saber ainda que doentes vão desenvolver essa perturbação, quais são as suas características e como pode ser revertida.
Para tal, juntamente com uma equipa do Hospital de Santa Maria e da Fundação Champalimaud (ambos em Lisboa), vai estudar doentes do Hospital de Santa Maria a partir de Janeiro de 2020. Este trabalho divide-se em dois estudos: um retrospectivo, em que se vão identificar cerca de 30 doentes que já têm essa perturbação e alterar os padrões da estimulação cerebral profunda; e outro prospectivo, em que vão seguir doentes que serão operados e identificar os que desenvolveram complicações na marcha.
Ao longo dos dois estudos, irão colocar-se nos doentes sensores de movimento – nomeadamente, sensores inerciais –, que permitem caracterizar e perceber quais são as alterações na marcha. Utilizar-se-á também a ressonância magnética para se saber quais são as alterações a nível das redes neuronais induzidas na estimulação cerebral. “Ao utilizarmos diferentes voltagens e frequências nos parâmetros de estimulação, vamos ver se conseguimos melhor a marcha dos doentes”, explica a médica.
Ao longo dos dois estudos, irão colocar-se nos doentes sensores de movimento – nomeadamente, sensores inerciais –, que permitem caracterizar e perceber quais são as alterações na marcha. Utilizar-se-á também a ressonância magnética para se saber quais são as alterações a nível das redes neuronais induzidas na estimulação cerebral. “Ao utilizarmos diferentes voltagens e frequências nos parâmetros de estimulação, vamos ver se conseguimos melhor a marcha dos doentes”, explica a médica.
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