"O tema do colesterol tem sido muito maltratado e banalizado"
A hipercolesterolemia familiar é uma doença que se
define pela existência de níveis de colesterol elevados desde a infância e não
tem relação direta com hábitos alimentares. A investigadora Mafalda Bourbon
explica como é que a doença se manifesta e como pode ser tratada.
Quando se fala em doentes com colesterol o mais
frequente é presumir que são pessoas com estilos de vida sedentários e com uma
alimentação pouco saudável. Mas nem sempre é assim, Há, inclusive, quem tenha
colesterol elevado ainda dentro do útero.
A hipercolesterolemia familiar é uma doença que
se define pela existência de níveis de colesterol elevados desde a infância e
não tem relação direta com hábitos alimentares, como explica a
investigadora do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que recebeu
uma menção honrosa pelo trabalho realizado sobre esta doença genética.
"Estes doentes já nascem com estes valores. No
útero o bebé já tem estes valores de colesterol muito aumentados. Na
criança é ligeiramente mais baixo do que no adulto, por volta dos 260
miligramas por decilitro, mas é muito elevado, quando uma criança deve ter no
máximo 170 miligramas por decilitro."
Em entrevista ao jornalista Fernando Alves, Mafalda Bourbon
esclareceu que "estes doentes têm valores muito elevados de colesterol
total, na ordem dos 300 miligramas por decilitro, quando o recomendado
é 190 miligramas por decilitro", isto é,"quase o dobro dos
valores recomendados".
"Estes valores acabam por provocar uma doença
cardiovascular prematura, como o enfarte do miocárdio ou morte súbita, mas
podem ser prevenidos", conta.
Apesar de ser fundamental que estes doentes sigam um
estilo de vida saudável, a alimentação e o exercício físico não chegam para controlar
a doença: "Estes doentes precisam de ter uma medicação mais
agressiva, porque a única forma de ultrapassar o defeito genético é
tomando medicação, as estatinas, e muitas vezes têm que se adicionar outros
fármacos, porque só uma estatina - mesmo a de maior potência - não é
suficiente."
Embora não
existam números oficiais, estima-se que existam em Portugal 40 mil pessoas com
hipercolesterolemia familiar.
"Poderíamos
ter, em Portugal, até 40 mil pessoas com hipercolesterolemia familiar. Não
sabemos ainda quantas pessoas têm a doença em Portugal. Nós queríamos
fazer um estudo epidemiológico, mas ainda não temos doentes suficientes para
poder estimar a prevalência em Portugal."
Mafalda
Bourbon defende que a deteção precoce da doença é fundamental para evitar que
se desenvolvam problemas cardiovasculares prematuros.
"Se um
doente com hipercolesterolemia familiar for identificado na infância pode
começar a ser tratado desde os oito anos de idade e nunca desenvolverá doença
cardiovascular na idade adulta, desde que seja tratado e identificado
cronicamente. Por isso, tem que tomar medicação para o resto da vida, mas nunca
terá uma doença cardiovascular prematura."
No mesmo
plano, a investigadora considera urgente que se comece aprestar mais atenção ao
colesterol, um tema que, na sua visão, tem sido esquecido.
"Eu
acho que o colesterol tem sido muito maltratado. Acho que o tema do colesterol
tem sido muito banalizado e, por isso, as pessoas não ligam muito aos valores do colesterol. A
verdade é que o colesterol é um fator de risco cardiovascular muito conhecido,
muito bem documentado e a hipercolesterolemia familiar é a prova viva de que o
colesterol elevado pode provocar enfartes de miocárdio."
Fonte: https://www.tsf.pt/sociedade/saude/interior/o-tema-do-colesterol-tem-sido-muito-maltratado-e-banalizado-10620271.html
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