Equipa da Austrália anunciou a detecção de um casal de
gémeos semi-idênticos ainda durante a gravidez.
É um caso excepcional: pela primeira
vez, identificaram-se gémeos semi-idênticos durante uma gravidez, revelou uma
equipa de cientistas esta quinta-feira na revista científica The New England
Journal of Medicine. Este casal de gémeos – um rapaz e uma rapariga agora com
quatro anos – é o segundo caso de gémeos semi-idênticos de que há registo em
todo o mundo.
Tudo começou em 2014 no Royal
Brisbane and Women's Hospital, na Austrália. Primeiro, quando uma mulher de 28
anos fez uma ecografia às seis semanas de gravidez tudo parecia normal: como só
existia uma única placenta e devido à posição dos sacos amnióticos, pensava-se
que iria ter gémeos idênticos. Contudo, às 14 semanas, o cenário mudou: afinal,
iria ter um rapaz e uma rapariga, sendo assim impossível que fossem gémeos
idênticos. “A partir desse momento, começámos estudos genéticos”, recorda ao
jornal britânico The Guardian Michael Gabbett, da Universidade de Tecnologia de
Queensland, na Austrália, e primeiro autor do estudo.
Os investigadores recolheram
amostras dos sacos amnióticos de cada gémeo, o que lhes permitiu analisar os
seus genomas durante a gravidez, ainda segundo o Guardian. Veio assim a
saber-se ainda durante a gravidez que o rapaz e a rapariga eram gémeos
semi-idênticos, ou sesquizigóticos.
Os gémeos semi-idênticos
situam-se entre os gémeos idênticos (ou monozigóticos) e os gémeos
não-idênticos (dizigóticos). Os monozigóticos surgem a partir de um ovócito
fertilizado por um espermatozóide, que se dividirá depois em dois. É por isso
que estes gémeos partilham o mesmo sexo e o material genético da mãe e do pai.
No caso dos gémeos dizigóticos,
dois ovócitos são fertilizados por dois espermatozóides. Por isso, embora estes
irmãos nasçam da mesma gravidez, são tão semelhantes geneticamente entre si
como irmãos dos mesmos pais nascidos em alturas diferentes.
O que acontece então no caso dos
gémeos semi-idênticos? “É provável que o ovócito da mãe tenha sido fertilizado
simultaneamente por dois espermatozóides antes de se terem dividido”, indica
Nicholas Fisk, também da Universidade de Tecnologia de Queensland e líder da
equipa, num comunicado sobre o trabalho. Depois, os cromossomas dos dois
espermatozóides e do ovócito agruparam-se em três conjuntos de cromossomas (um
da mãe e dois do pai).
“Geralmente, os três conjuntos de
cromossomas são incompatíveis com a vida e os embriões não sobrevivem”, refere
Michael Gabbett. “No caso dos gémeos sesquizigóticos de Brisbane, o ovócito
fertilizado parecem ter dividido de forma igual os três conjuntos de
cromossomas em grupos de células que depois se dividiram em dois, criando assim
gémeos.” Os gémeos australianos partilham todo o material genético da mãe, mas
apenas 78% do ADN do pai, segundo o comunicado de imprensa.
O caso de 2007
Até agora, os gémeos
semi-idênticos apenas tinham sido identificados em 2007, nos Estados Unidos. Na
altura, percebeu-se de que este casal de gémeos era sesquizigótico depois de os
médicos terem detectado que um deles tinha órgãos genitais ambíguos: a rapariga
tinha tanto tecidos testiculares como do ovário. Publicado na revista
científica Human Genetics, o artigo científico que relatava esse caso referia
que os gémeos tinham o lado genético materno idêntico, mas só partilhavam metade
da informação genética do seu pai.
De acordo com o The Guardian,
nenhum dos gémeos semi-idênticos australianos tem as mesmas ambiguidades
genitais. Mesmo assim, a rapariga teve complicações. Pouco antes de ter nascer
desenvolveu um coágulo sanguíneo, pelo que, quando quatro semanas após o
nascimento, um dos braços teve de ser amputado. Já aos três anos, os seus
ovários tiveram de ser removidos porque não estavam totalmente desenvolvidos, o
que poderia aumentar o risco de cancro.
Para confirmarem como os gémeos
sesquizigóticos são raros, a equipa vasculhou ainda bases de dados de gémeos de
todo o mundo. “Ainda nos questionámos se havia outros casos que tinham sido
erradamente classificados ou não tinham sido reportados, por isso analisámos a
informação genética de 968 gémeos não-idênticos e dos seus pais”, conta
Nicholas Fisk. Mesmo assim, os cientistas não descobriram nenhum caso de gémeos
semi-idênticos.
Fonte: https://www.publico.pt/2019/02/28/ciencia/noticia/identificado-segundo-caso-gemeos-semiidenticos-nivel-mundial-1863768?fbclid=IwAR0fe_xKH68Gy1RWKDRqMgzqL9AcUPwkJMxLuuet-UqTMQZSCHkGA2bkYz8#gs.n1QpZAev
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