São apresentados esta quinta-feira em Coimbra os resultados do projecto Do IT, que envolveu as universidades, o sector da saúde e as empresas, para acelerar a passagem do conhecimento científico para produtos e serviços de saúde.
Este boné ainda não está comercializado. Mas esta quinta-feira, este e outros desenvolvimentos na área da saúde serão apresentados no ciclo de conferências Inovação em saúde translacional e investigação clínica: da bancada para cabeceira, de Portugal para o mundo, no Auditório da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
A atividade elétrica que acontece no cérebro cria ondas cerebrais, que podem ser lidas por aparelhos para fazer eletroencefalogramas. Durante os ataques epiléticos, há uma perturbação destas ondas. Para se fazer um exame destes, é necessário ir a um hospital. Agora um consórcio português desenvolveu um boné (ou outro tipo de chapéus com o aparelho) capaz de realizar o exame. Em teoria, uma pessoa com epilepsia pode usar este boné no seu dia-a-dia para medir as ondas cerebrais. No caso de ter um ataque, as entidades de saúde poderão até ser avisadas.
Este boné ainda não está comercializado. Mas esta quinta-feira, este e outros desenvolvimentos na área da saúde serão apresentados no ciclo de conferências Inovação em saúde translacional e investigação clínica: da bancada para cabeceira, de Portugal para o mundo, no Auditório da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Estas conferências destinam-se a apresentar os resultados do projeto Do IT – Desenvolvimento e Operacionalização da Investigação de Translação, do Health Cluster Portugal (uma associação criada em 2008 por institutos e empresas para desenvolver produtos comerciais na área da saúde, a partir da ciência feita em Portugal).
O Do IT – iniciado em 2011 e finalizado em 2015 – contou com 21 entidades do sector da saúde e apostou em projetos em quatro áreas: anticorpos contra a doença de Alzheimer; a identificação de genes que ajudem a prever a eficácia de terapias contra o cancro do cólon e do reto; o desenvolvimento de diagnósticos para a avaliação do risco de diabetes 2; a criação de plataformas de recolha de informações e dados clínicos, permitindo terapias mais eficientes.
Além destes quatro áreas, o projeto tinha em conta uma quinta área com o objetivo de desenvolver um documento orientador, que, aproveitando a experiência do Do IT, possa ajudar a uma transferência mais eficaz do conhecimento científico para a aplicação.
“Tem-se verificado uma descontinuidade entre a geração de conhecimento e a sua transformação em novos produtos. É precisamente esta a essência do projeto Do IT”, explica Joaquim Cunha, diretor-executivo do Health Cluster Portugal, num comunicado desta associação. O projeto recebeu 6,8 milhões de euros do programa Compete do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).
A criação do boné que faz encefalogramas inclui-se nas plataformas de recolha de informações e dados clínicos, chamada MyHealth, coordenada por Nuno Sousa, médico e professor na Universidade de Minho. “O boné permite-nos fazer um registo de atividade elétrica cerebral do indivíduo em qualquer local”, diz o investigador ao PÚBLICO, resumindo assim o projecto MyBrain.
O aparelho faz as medições por baixo do boné. Não tem fios e tem ligação wireless. “Tivemos de fazer um enorme desenvolvimento tecnológico”, refere Nuno Sousa. Ao contrário dos eletroencefalogramas nos hospitais, o boné não necessita que o utilizador ponha gel para a leitura. Foi ainda necessário pôr uma bateria no aparelho para fosse portátil e um chip para armazenar a informação. Há ainda um sistema de transmissão para “emitir alertas” para os centros de saúde, que pode servir para os casos de epilepsia.
“Já temos empresas interessadas no desenvolvimento comercial”, assegura Nuno Sousa, acrescentando que o protótipo está preparado para ser comercializado em 12 a 24 meses. Uma versão mais simplificada do aparelho pode ser usada durante o trabalho, em situações em que os trabalhadores não podem adormecer, como os camionistas. Nesse caso, o boné pode detetar quando alguém está a começar a adormecer, através da leitura de um certo padrão de ondas cerebrais, e emite alertas.
O MyHealth contou com a colaboração da Universidade do Minho, da Unidade Local de Saúde do Alto Minho e das empresas Frulact, Plux e Têxtil Manuel Gonçalves. Os dois principais aspectos deste projecto foram a criação de uma plataforma informática de armazenamento de dados clínicos e outra de análise destes dados, para facilitar a consulta e o desenvolvimento de terapias apropriadas para os doentes.
Além do MyBrain, existiram outros projetos do MyHealth: uma cinta para grávidas que recolhe sinais vitais do feto; um dispositivo portátil que faz análises clínicas usando saliva ou urina; ou uma série de testes para conhecer a história clínica a partir do cabelo.
Em relação a este último projeto, Nuno Sousa explica que é possível medir os níveis de hormonas e de fármacos no cabelo, um tipo de medições normalmente feitas em análises do sangue, que dão resultados momentâneos. “Usando o cabelo, podemos ter o nível médio do composto ao longo do tempo”, diz Nuno Sousa, explicando que, sabendo a velocidade de crescimento do cabelo de uma pessoa, é possível ter uma noção temporal dos níveis fisiológicos de uma determinada substância.
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