Duas condições de saúde que afetam milhões de mulheres, a
endometriose e o mioma uterino, são pouco debatidas e estudadas, apesar
de estimativas indicarem que potenciais tratamentos renderiam 1.6 mil
milhões de euros para a indústria.
Essas doenças podem causar muita dor e, em alguns casos, levar à
infertilidade e procedimentos cirúrgicos. Felizmente, alguns novos
medicamentos estão a ser testados, embora os especialistas acreditem que
estes – e outros problemas que atingem exclusivamente o sexo feminino –
não recebam a atenção devida.
A endometriose, uma doença inflamatória crónica, afeta cerca de 10% das mulheres
em idade reprodutiva (entre 20 e 40 anos) e odiagnóstico é demorado:
aproximadamente 12 anos. Nessa condição, o tecido do útero cresce fora
do órgão, levando a quistos, sangramento e cicatrizes.
Já os miomas são nódulos que se desenvolvem de células
do músculo uterino, o que leva a tumores benignos. Estes tumores
crescem dentro e à volta do útero, podendo causar grandes sangramentos e
dor nas mulheres.
Metade das mulheres pode desenvolver um mioma em algum ponto da vida,
mas nem todas apresentarão sintomas. O tratamento da endometriose e de
miomas uterinos envolve a alteração dos níveis hormonais no organismo.
Já existem algumas drogas que fazem isso, incluindo a leuprolide, sendo que alguns contraceptivos também são usados para esse fim. No entanto, alguns desses tratamentos vêm com efeitos colaterais importantes, incluindo perda de densidade óssea e ondas de calor.
As condições também podem ser tratadas por cirurgia,
mas a esperança dos novos estudos é precisamente criar tratamentos
menos invasivos e com menos efeitos colaterais. Algumas empresas estão
atualmente à procura de novas terapias para essas condições.
A Allergan está a desenvolver a Esmya, uma droga
para uso em miomas uterinos. Este medicamento funciona modulando a
progesterona, uma hormona chave para o útero. É um tipo de droga chamada
de “moduladora seletiva de recetor de progesterona”. Bill Meury,
diretor comercial da Allergan, disse que espera obter resultados que
possam colocar a droga para aprovação comercial em 2018.
A Bayer está a testar a Vilaprisan, uma droga que
também funciona modulando os níveis de progesterona. Como Esmya, é uma
“moduladora seletiva de receptor de progesterona”. Em julho, a companhia
iniciou um estudo de três fases para tratar miomas uterinos. O ensaio
clínico deverá demorar três anos.
A Myovant está a estudar a Relugolix, uma droga que funciona
suprimindo o estrogénio em níveis baixos e, em seguida, reintroduzindo o
suficiente para que não leve à perda de densidade óssea. É um tipo de
medicamento chamado de “antagonista do recetor da
hormona libertadora de gonadotrofina”. Os ensaios clínicos devem
terminar em 2019, mas um teste realizado no Japão já descobriu que a
droga não é inferior à leuprolide, um dos tratamentos já disponíveis
para miomas uterinos.
A AbbAie, em parceria com a Neurocrine Biosciences, está a trabalhar
na Elagolix, uma droga que também funciona alterando os níveis hormonais
em mulheres com miomas uterinos e endometriose para reduzir a dor
associada às condições. Como a Relugolix, a Elagolix é “antagonista do
recetor da hormona libertadora de gonadotrofina”. Em setembro do ano
passado, a AbbVie submeteu o medicamento para aprovação comercial nos
EUA e aguarda resultados.
Esses tratamentos, embora sejam idealmente capazes de tratar a endometriose e miomas uterinos com menos efeitos colaterais do que os atuais, não são ainda as melhores soluções.
“Quando as pessoas perceberem a diferença que podemos fazer nas vidas
das mulheres, outras companhias seguirão”, espera Lynn Seely, CEO da
Myovant. Para chegarmos lá, mais pesquisas básicas sobre doenças
relacionadas com a saúde das mulheres precisam de ser feitas.
Além dessas condições, existem muitas outras que precisam de mais atenção.
A Allergan também está a trabalhar em tratamentos para ajudar mulheres
que sentem dor durante relações sexuais, enquanto a Myovant investe numa
droga para tratar a infertilidade que ainda está em estágios iniciais.
Ainda outras áreas, por exemplo relacionadas com a saúde mental da
mulher, como a depressão pós-parto, desesperadamente precisam de alguma
inovação.
Fonte: Zap
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