Cientistas estão a "explorar ativamente" a possibilidade de criar um
programa de computador que ajude a treinar o cérebro para diminuir
padrões de adição ou perturbação obsessiva compulsiva, segundo os
autores de um estudo divulgado esta quinta-feira.
O trabalho, divulgado pela Fundação Champalimaud, mostra como o cérebro
aprende a fazer "replay" para obter mais prazer, através de experiências
realizadas com ratinhos. Os investigadores conseguiram ver como o
cérebro dos animais aprende a repetir padrões de atividade neuronal que
produzem uma sensação de prazer.
"Até agora, os mecanismos
cerebrais que comandam este tipo de aprendizagem nunca tinham sido
medidos diretamente", afirma a fundação em comunicado.A investigação,
liderada por cientistas da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, do
Centro Champalimaud, em Lisboa, e da Universidade da Califórnia, é
publicado na edição de 2 de março da revista Science.
Rui
Costa, investigador principal do Centro Champalimaud e da Universidade
de Columbia, explica o princípio: "Os resultados revelam que o cérebro
aprende a selecionar os padrões de atividade que produzem sensações de
bem-estar e que se remodela para reproduzir esses padrões de maneira
mais eficiente".
A descoberta agora anunciada funda-se
num trabalho anterior, durante o qual os cientistas observaram que os
padrões de atividade neuronal que levam a uma recompensa são repetidos
com maior frequência e progressivamente consolidados. Assim se passa com
a estratégia que leva a bons resultados num jogo de computador,
exemplificam.
Como funciona o cérebro nas adições?
Os
resultados do estudo fornecem pistas sobre a forma como a atividade
cerebral é moldada e refinada à medida que os animais aprendem a repetir
comportamentos que suscitam uma sensação de prazer. "Também sugerem
novas estratégias para lidar com perturbações caracterizadas por
comportamentos repetitivos anormais, tais como a adição e a perturbação
obsessivo-compulsiva", adianta Rui Costa.
O especialista explica que o estudo pode também contribuir
para elucidar o que acontece nos comportamentos aditivos ou
obsessivo-compulsivos, em que "o circuito de feedback fica
descontrolado". Normalmente, fazer algo agradável faz com que os
neurónios libertem uma substância chamada dopamina. "É esta libertação
que produz a sensação de bem-estar, suscitando o desejo de repetir a
ação vezes sem conta".
Durante o trabalho, os cientistas
desenvolveram um programa de computador que associava a atividade
neuronal dos ratinhos a notas de música, por forma a que, quando um
grupo de neurónios fosse ativado, se gerasse um determinado tom musical.
Quando os padrões de atividade neuronal desencadeavam a ordenação certa
das notas - arbitrariamente determinada por um computador - os
cientistas libertavam manualmente dopamina no cérebro dos animais.
Os ratinhos "rapidamente aprenderam" qual era o arranjo musical que, ao ser reproduzido, provocava a libertação da substância e uma sensação de bem-estar.
Fonte: Sapo
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