Nos últimos tempos, vários
centros de investigação estão na corrida para criar testes ao sangue para
detetar marcadores de cancro da mama antes de este ser visível na mamografia. A
Universidade de Heidelberg anuncia ter um teste pronto para entrar no mercado
ainda em 2019.
Sarah Schott and Christof Sohn,
do Hospital Universitário de Heidelberg, antes da conferência de imprensa na
qual anunciaram o novo teste ao sangue © REUTERS/Thilo Schmuelgen
"Esta técnica é muito menos
penosa para as mulheres. Não dói nem implica exposição à radiação."
Sarah Schott, do Hospital
Universitário de Heidelberg, na Alemanha, está convicta de que o teste que a
sua equipa desenvolveu estará disponível no mercado ainda este ano e poderá com
grande vantagem substituir a mamografia na deteção do cancro da mama, pelo
menos nas mulheres com menos de 50 anos.
Descrito pelos investigadores
como "uma biopsia líquida" e "não invasiva", o teste,
intitulado HeiScreen, já detetou 15 tipos diferentes de células de cancro da
mama e tem ainda a vantagem de identificar o cancro antes de este ser visível
através das técnicas de raios X ou ecografia. É também mais económico,
requerendo apenas alguns mililitros de sangue e podendo ser feito em qualquer
laboratório.
Para desenvolver o teste, que
também deteta novas metástases de cancros em recidiva, mais de 900 mulheres
foram testadas ao longo de um ano, 500 das quais com cancro da mama.
Ainda de acordo com o Hospital
Universitário de Heidelberg, o teste é particularmente adequado a mulheres
abaixo dos 50 e para aquelas que têm um historial familiar de cancro da mama. O
nível de fiabilidade do HeiScreen para mulheres abaixo dos 50 é de 86%,
bastante mais elevado que o de outro teste similar ao sangue já existente, o
CancerSEEK, que apresenta apenas 70% de sucesso na deteção do cancro. Em
mulheres acima dos 50, a fiabilidade do HeiScreen desce para 60%.
Para desenvolver o teste, que
também deteta novas metástases de cancros em recidiva, mais de 900 mulheres
foram testadas ao longo de um ano, 500 das quais com cancro da mama.
Segundo a Organização Mundial de
Saúde, o cancro é a segunda causa de morte mais frequente na Europa, com mais
de 3,7 milhões de novos casos e 1,9 milhões de mortes anualmente. O cancro da
mama mata mais mulheres que qualquer outro tipo de cancro; em 2018, cerca de
627,000 morreram de cancro da mama em todo o mundo. A deteção precoce do cancro
cria mais hipóteses de sobrevivência, por encaminhar logo as pacientes para
tratamento. Se for descoberto precocemente, como no estágio 2, a hipótese de
sobrevivência para este tipo de cancro é de 93 a 100%; a percentagem cai para
72% quando adoença é descoberta no estágio 3 e para 22% no estágio 4.
Em Portugal, há em média seis mil
novos casos de cancro da mama anualmente, mas o país está no pelotão da frente
no que respeita à taxa de sobrevivência, ao lado da Suécia e da Noruega, de
acordo com um estudo recente da Lancet. "Estamos a falar de uma taxa de
sobrevivência global de 85% aos cinco anos. São notícias muito boas, que devem
servir para encorajar as pessoas a continuarem alerta, a terem consciência de que
é uma doença que se pode tratar", disse à TSF, a propósito do dito estudo,
o oncologista Joaquim Abreu de Sousa. Na base desta taxa de sucesso no
tratamento estarão, de acordo com Carlos Oliveira, presidente do Núcleo
Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro, em declarações à Lusa,
os rastreios iniciados nos anos 1990. Mas, ainda assim, este investigador prevê
que em Portugal, até 2030, o cancro da mama cresça 17%.
Em Portugal, há em média seis mil
novos casos de cancro da mama anualmente, mas o país está no pelotão da frente
no que respeita à taxa de sobrevivência.
O último relatório da OCDE sobre
saúde, publicado em novembro, prevê que Portugal terá uma das mais baixas taxas
de incidência dos 36 países da organização, mas mesmo assim com 50 mil novos
casos em 2018, ou seja, cerca de 492 por 100 mil habitantes. Esta previsão está
alinhada com as estimativas divulgadas em setembro pela Agência Internacional
para a Investigação do Cancro, que apontava para um número de novos casos de
cancro em Portugal acima dos 58 mil, com as mortes resultantes estimadas em
cerca de 29 mil. Em termos europeus, a OCDE prevê novos 400 mil casos de cancro
da mama.
Um estudo realizado em 2017 no
Reino Unido, envolvendo 13.000 mulheres, descobriu que o rastreio através de
mamografia "perde" mais de dois mil casos de cancro de mama por ano.
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